2011-06-10

dizer poesia Sá de Miranda



O sol é grande, caem co'a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m'eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!


Sá de Miranda
1481-1558

Obras Completas - volume I
Francisco de Sá de Miranda; texto fixado, notas e prefácio de Rodrigues Lapa
Livraria Sá da Costa Editora

Nascido em Coimbra, Sá de Miranda é um dos importantes poetas quinhentistas, sendo considerado o responsável por, depois de uma viagem a Itália, ter, no retorno dessa viagem em 1526, trazido para Portugal «o soneto, a canção, a sextina, as composições em tercetos e em oitavas e os versos de dez sílabas», afirmando, assim, um gosto mais classicista que se começa a evidenciar na corte portuguesa. Contemporâneo de Gil Vicente, Sá de Miranda também tem obra teatral, nomeadamente as comédias Vilhalpandos e Estrangeiros.
Uma importante informação sobre todos os autores de teatro do século XVI, nomeadamente, os textos de teatro, pode ser lida na base de dados do teatro quinhentista do Centro de Estudos de Teatro.

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