2011-07-19
ler poesia mário cesariny
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Mário Cesariny
1923-2006
Nobilíssima Visão
Mário Cesariny
Assírio & Alvim
Nome maior do surrealismo português, Cesariny é poeta e pintor que merece ser conhecido. Na Biblioteca podem ser consultados alguns dos seus livros e antologias que o transcrevem. Mas para quem tem pressa de o conhecer vá já a este blogue ou passe pelas tormentas ou então explore a página da Wikipédia ou veja as obras pertencentes ao Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian (CAMJAP) . Já o demos a ouvir e a ele voltaremos.
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