2011-12-23

a eficácia de gabriel

«Que se passara? Quase nada. Ouvira-se, saindo da sombra quente da palha, um vagido, e este vagido não vinha de certeza nem do homem, nem da mulher. Era o doce vagido de um recém-nascido. Ao mesmo tempo, uma coluna de luz veio postar-se no meio do estábulo; o arcanjo Gabriel, o anjo da guarda de Jesus, tinha chegado e parecia assumir o comando das operações. De resto, a porta abriu-se logo depois e viu-se entrar uma das criadas da estalagem vizinha, trazendo uma bacia com água tépida apoiada na anca. Sem hesitar, ajoelhou-se e banhou a criança. Depois, friccionou-a com sal a fim de consolidar-lhe a pele e estendeu-a já enfaixada a José, que a colocou sobre os joelhos, sinal do reconhecimento paternal.

Não podia deixar de saudar-se a eficácia de Gabriel. Ah, salvo o respeito que se deve a um arcanjo, diga-se que de há um ano para cá Gabriel não tinha parado!»
Michel Tournier, Gaspar, Belchior e Baltazar, Publicações Dom Quixote

Sem comentários:

Enviar um comentário