Desta vez vai uma história inteira. Uma fábula, pois, neste #Mibe2021, para o fim de semana :
Uma raposa passou por um souto e sentiu piar um mocho; disse ela para si:
-Ceia já eu tenho.
E foi muito sorrateira trepando pelo castanheiro em que estava piando o mocho, e filou-o.
O mocho conheceu a sorte que o esperava, e viu que não podia livrar-se da raposa sem ser por ardil. Disse então para ela:
- Ó raposa, não me comas assim como qualquer frango desses que furtas pelos galinheiros; tu também sabes andar à caça de altenaria, e é preciso que todos o saibam. Agora que me vais comer, grita bem alto: «Mocho comi!»
A raposa levada por aquela vaidade, gritou:
- Mocho comi!
- A outro sim, que nenja a mim! replicou-lhe o mocho caindo-lhe de entre os dentes e voando pelo ar fora, livre de perigo.
Teófilo Braga, «Fábula da raposa e do mocho», Contos tradicionais do povo português volume II, Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 247 (821.134.3-34 BRA CON)
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