O jornal da escola, Às Avessas, continua à venda na
Biblioteca. Colaborar, enviando notícias e, também, adquiri-lo, significa divulgar a escola. Publicamos, como modo de o promover, mais um o artigo, Memórias, assinado por C. S., 10.º, editado no último número do jornal,
Memórias
Lembro-me de correr à beira-mar com o meu pai (ainda mal me equilibrava
de pé) naquelas praias ventosas de Santa Cruz, dos piqueniques no meio dos
bosques, das suas voltas a cavalo, enquanto eu o admirava com aquela postura
que fazia com que se sentisse o seu merecido respeito através da brisa. Estas
são as memórias que tenho dele, antes de partir para a sua última guerra. Já da
minha mãe, só consigo ouvir a sua voz “José, vai buscar água que ela não
vem sozinha!”…
Memórias, de facto, não tenho muitas. Agora, que já cá vagueio há algum
tempo, é que parei para pensar, porque me apercebi de que qualquer dia destes
posso partir desta vida sem nunca me conhecer a mim próprio.
Quem sou eu? Bem, de nome, José Antunes, um empresário que trabalha e dorme.
Por dentro, sou um vazio. Em novo, sonhava ser militar, tal como o meu pai. Mas
o país evoluiu e convenceram-me de que os estudos é que nos iriam fazer felizes...
Segui os estudos, consegui este trabalho e só houve um único dia em que fui
trabalhar feliz: o primeiro.
Nem o amor, esse sentimento que
comanda, se aproxima de mim. Uma vez, chegou perto mas, mais tarde, apercebi-me
de que era um jogo de “toca e foge”. Uma rapariga que conheci e que pintou as
paredes do meu mundo que toda a vida havia sido cinzento. Nunca tinha sentido
nada assim, um amor que permanecia dia após dia, passeio após passeio, jantar
após jantar, dormida após dormida, felicidade após felicidade… até um dia.
Nesse tal dia, despertei com um sorriso na cara, mas essa expressão desapareceu
quando não a encontrei, nem qualquer rasto dela como se nunca tivesses
existido. Onde estavam os seus belos cabelos ruivos? Os seus olhos verdes? A
sua face sarapintada? E o seu sorriso angelical que escondia uma personalidade
diabólica? Nunca mais a vi, até hoje, o dia em que me deu para pensar. Já não
quero refletir mais. Estou preparado para o fim, venha ele quando vier. E no
que diz respeito ao meu percurso de vida, não me orgulho nem me desiludo. Só
espero que do outro lado não existam memórias para me devorarem de dentro para
fora, como aconteceu desta vez.
Imagem: http://noticias.uol.com.br/ciencia/album/2014/02/17/pesquisas-sobre-o-cerebro-e-mente.htm#fotoNav=12
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