No seguimento da promoção do Concurso Faça lá um Poema, do Plano Nacional de Leitura, até
fevereiro, apresentaremos um poema por semana, que será distribuído a
quem passa pela biblioteca.
Esta semana:
22
Julgavas,
então, que a poesia era um discurso
de palavras
em sentido? Sei quanto a musa aprecia
glória,
poder e uniforme, quanto aguarda
o cavaleiro
que produz.
A vida,
afinal, anda lá fora, antes da folha
ter passado
a prensa;
a mais
pequena árvore é verde eterna, comparada ao arbusto
que, mal
tocada a haste, se desvai em fumo.
Por isso eu
fico lendo as crónicas, as lendas,
o jornal
que, bem ou mal, cruza as palavras com o tempo,
e contudo!
quando o lábio se engana, solta
a mais aguda
fífia do trombone,
e de repente
o corpo sabe a gente, e então se diz: eis
a verdadeira
e pura poesia! pois seria, talvez,
somente a
tua mão, cobrindo a folha.
Alexandre, António Franco – Poemas. Lisboa: Assírio
Alvim,1996, p.366
(cota na BESC: 821.134.3-1 ALE POE)