2020-03-21

Dia Mundial da Poesia


Hoje, no dia da poesia:
Herberto Helder :: Bate-me à porta, em mim / Por Luís Lucas

 


https://www.youtube.com/watch?v=iKwoiFimBTw

2020-03-20

Poemas da emergência 8 - Maria Teresa Horta

Vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver: o poema de Maria Teresa Horta:


DIAS DE AGRURA


Não sei o que mais
custa
nestes dias de agrura
*
de doença e mágoa
*
Se o animal da morte e medo
que pé ante pé
nos tenta entrar em casa
*
Se este silêncio imenso
que chega da rua
e nos atordoa
*
nesta cidade muda
em que se tornou
Lisboa

*
Lx 20-- 2020

Maria Teresa Horta

Poemas da emergência 7 - Luís Filipe de Castro Mendes


Novo poema de Luís Castro Mendes:

O AUTOR, DE QUARENTENA, TEM SAUDADES DAS VISTAS DE LISBOA


Memórias da Lisboa que não vejo
senão do quadradinho da janela
que dá para Monsanto e não pró Tejo
e nenhuma visão do mar revela.

Memória de um só largo, de uma rua,
que possa consolar meu coração.
Memória da beleza que foi sua
e se chama Lisboa num pregão.
Que já não há pregões, nem nas cantigas?
Imaginamos nós a terra amada
tão leve nas suaves raparigas
quão firme nas mulheres desejadas?
Memória de Lisboa, tão mulher
que se menos a vemos mais nos quer!

Luís Filipe de Castro Mendes

Poemas da emergência 6 - Manuel Alegre

A um desafio de António Carlos Cortez vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver. Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.

 Manuel Alegre

Poemas da emergência 5 - Luís Filipe de Castro Mendes

A um desafio de António Carlos Cortez vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver. Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.






FADO DAS AVENIDAS NOVAS

Ao meu amor vou dar provas,
se estamos de quarentena:
nós nas Avenidas Novas
não somos gente pequena!

Sem um cão pra passear,
sem vontade de correr,
onde havemos de mostrar
nossas ganas de viver?
Nem o cozido do Nobre,
nem a sopa do Milú:
comemos ração de pobre
no bairro do "lá vem um".
Não vai ninguém pela rua,
a avenida é deserta.
Ponho a minha mão na tua
e é sempre uma conta certa.
Conta certa com a vida
e o amor não se arrepende.
Põe na minha mão perdida
o amor que tens na mente.
Amor é coisa mental
que no corpo sabe bem.
À janela vejo mal
a rua onde vai ninguém.
Mas tu enches avenidas
com o calor do teu peito
e o fundo das nossas vidas
é o teu olhar perfeito.

Luís Filipe de Castro Mendes

Poemas da emergência 4 - Nuno Júdice

A um desafio de António Carlos Cortez vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver. Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.




A NOVA MARIQUINHAS
Esta doença bizarra
Assustou a Mariquinhas
Tem uma grossa samarra
Janelas com tabuinhas
Já não vive com amigas
E a culpa é deste galo
Já se acabou o regalo
Pôs na rua as raparigas.
Para não ser diferente
Faz coisas que nunca fez
Usa máscara na frente
Gel da loja do chinês.
Chora as muitas, coitadinhas
Que andam sem luvas na mão
Não seguem a prevenção
Que lhes deu a Mariquinhas
E não cai em tentação
Em vez da cama um móvel
Onde está o telemóvel
Caso lhe venha um febrão.
Já não passam as vizinhas
Está tudo em emergência
Mas não lhe falta assistência
Comprou ovos e galinhas.

Nuno Júdice

Poemas da emergência 3 - José Carlos Barros

A um desafio de António Carlos Cortez vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver. Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.

AI A PALAVRA SAUDADE

Ai que saudades, lisboa
eu que de longe te vejo
no meio da tempestade:
joaninha voa voa
vai pelas águas do tejo
leva esta carta a lisboa
(ai a palavra saudade...)
Ai que saudades, lisboa
ai o som do realejo
das ruas da madragoa:
joaninha voa voa
vai pelas águas do tejo
leva esta carta a lisboa
(lisboa, quando te vejo?)
Ai que saudades, lisboa
dessa luz, da maresia,
do alto da serafina,
dos sete céus, de alvalade:
joaninha voa voa
leva esta carta a lisboa
(ai a palavra saudade...)

José Carlos Barros
.

Poemas da emergência 2 - Maria do Rosário Pedreira

A um desafio de António Carlos Cortez vários escritores têm estado a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver. Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.

«Fado da Lisboa doente»

Quem a viu e quem a vê,
Esta Lisboa onde moro.
Mas não perguntem porquê.
Pois, se explicar, ainda choro.

Na padaria da esquina
Já só se entra às pinguinhas
E até se tornou rotina
Estar a um metro das vizinhas.
Há fila para a farmácia,
Fila pró supermercado;
E nem é precisa audácia
Para se andar mascarado.
Nas traseiras do meu prédio
Uma jovem namorada
Tenta combater o tédio
Com uma videochamada.
A uns metros de distância
Parte um atleta em corrida;
Para manter a elegância
Há que fazer pela vida.
De resto, com a emergência,
Ficam as ruas desertas.
Podemos conferir a ausência
Pelas janelas abertas.
Está tudo em teletrabalho,
A olhar p’ró monitor.
Mas não encontro o atalho
Para vos falar de amor.
Dar beijos é só por escrito,
Que o vírus mata a valer.
E está tudo tão aflito
Que nem apetece ler.
Ai Lisboa, que saudade
Da tua irrequietude.
Mesmo que, em boa verdade,
Mais importante é a saúde.
Que tudo passe ligeiro,
E não afecte o meu ninho.
Da Praça do Areeiro
Envio um tele-beijinho!

Maria do Rosário Pedreira

Poemas da emergência 1 - António Carlos Cortez


António Carlos Cortez desafiou com esta letra os escritores  a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver.
Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.


LETRA PARA UMA CANÇÃO
SOBRE LISBOA

Percorri as ruas onde estão
num silêncio claro às janelas
rostos de incêndio onde vão
músicas de fado e caravelas.
 Depois pela noite sem ninguém
prometi voltar a esse retrato:
Desde Alvalade a Belém,
Desde sete rios ao Beato...
E numa colina que teu rosto iluminou
Uma guitarra fez a despedida...
Se no Bairro Alto me ficou
mais do que mil noites outra vida:
vou voltar-te a olhar
se o rio Tejo passar
onde eu não sei bem
(no teu beijo eu sei)
Fomos visitar a lua nova
num beco d`alfama afamado
Recordando um vinho cuja prova
era um oceano procurado;
e depois dançamos no castelo
numa madrugada de legenda...
Cigarros e sonhos e um novelo
desenrolado a dois - anos 90 -
Mas eu não supus
que a cidade ia ficar
uma nau sem luz
um corpo a naufragar...
Quero ir mais tarde a outra rua
Talvez de Benfica ou de carnide,
revisitar uma azinhaga que flutua
nessa fantasia cuja luz incide
sobre um tempo maior
quando demos de cor
todo o fogo do amor
à cidade em redor...
E por isso eu sei
que Lisboa em mim
é o fogo é a lei
dum amor sem fim.
António Carlos Cortez