2020-03-20

Poemas da emergência 1 - António Carlos Cortez


António Carlos Cortez desafiou com esta letra os escritores  a escrever, e a colocar no facebook, poemas e letras de fados que refletem o momento que estamos a viver.
Alguns dos textos desta desgarrada poética que estamos a partilhar no nosso blogue podem carecer de revisão, mas merecem leitura desde já.
Boas leituras com estes fados do tempo de hoje.


LETRA PARA UMA CANÇÃO
SOBRE LISBOA

Percorri as ruas onde estão
num silêncio claro às janelas
rostos de incêndio onde vão
músicas de fado e caravelas.
 Depois pela noite sem ninguém
prometi voltar a esse retrato:
Desde Alvalade a Belém,
Desde sete rios ao Beato...
E numa colina que teu rosto iluminou
Uma guitarra fez a despedida...
Se no Bairro Alto me ficou
mais do que mil noites outra vida:
vou voltar-te a olhar
se o rio Tejo passar
onde eu não sei bem
(no teu beijo eu sei)
Fomos visitar a lua nova
num beco d`alfama afamado
Recordando um vinho cuja prova
era um oceano procurado;
e depois dançamos no castelo
numa madrugada de legenda...
Cigarros e sonhos e um novelo
desenrolado a dois - anos 90 -
Mas eu não supus
que a cidade ia ficar
uma nau sem luz
um corpo a naufragar...
Quero ir mais tarde a outra rua
Talvez de Benfica ou de carnide,
revisitar uma azinhaga que flutua
nessa fantasia cuja luz incide
sobre um tempo maior
quando demos de cor
todo o fogo do amor
à cidade em redor...
E por isso eu sei
que Lisboa em mim
é o fogo é a lei
dum amor sem fim.
António Carlos Cortez

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