Na biblioteca da escola depois da guerra
Ao entrar sinto a cara a arder:
montes de livros, migalhas de cultura e de beleza
juncam o chão como espigas calcadas
após a passagem de um brutal furacão.
A poeira da guerra veio pousar nos lábios
dos homens de génio. Vozes incorruptíveis
a troar por cima do espaço e do tempo.
Mas incapazes de esmagar as botas do fantasma.
Apanho o livro pouco espesso furado
Por uma bala. A chaga é horrível.
Todas as folhas estão manchadas de sangue.
Abro. Leio. Não posso reter as lágrimas
quando o título vem dançar diante dos meus olhos:
«Os sonetos sangrentos de Hviezdoslav».
Julius Lenko (1941-1991), in A rosa do mundo 2001 poemas para o futuro, (dir edit. Manuel Hermínio Monteiro) Lisboa: Assírio e Alvim, 2001, pp.1547-1548
Nos 32 poemas que compõem Os Sonetos Sangrentos (1914), o poeta eslovaco Pavol Országh Hviezdoslav pergunta quem é o responsável pelos horrores e sofrimentos da guerra, revelando também esperança de que a humanidade aprenda a viver em paz.
http://relvateresa.blogspot.com/2021/03/os-sonetos-sangrentos-de-hviezdoslav.html
Concluímos com este poema de um poeta eslovaco a nossa proposta de textos para a paz. Afinal , a maioria fala da guerra. Sim, é a guerra que nos faz falar da paz.