Recitativo do requiem para os caídos da Europa (1917)
Quero queixar-me dos homens no exílio do seu tempo;
Queixar-me das mulheres de coração jubilante, agora a gritar num lamento;
Quero acumular e repetir todos os queixumes
De viúvas apertando-se em corpetes impacientes, no crepitar de lumes;
Ouço crianças de loira voz que antes de irem para a cama perguntam por Deus- -Pai;
Em todos os frisos vejo retratos com hera, sorrindo fiéis ao tempo que já lá vai;
De todas as janelas ardem para pétreos longes olhares de raparigas abandonadas;
Em todos os jardins se cultivam sécias, como se já as campas tivessem de ser [preparadas;
Em todas as ruas os carros se movem mais lentos, como num enterro;
Em todas as cidades tocam mais forte os sinos, porque há sempre mais um que às [balas tombou em qualquer cerro;
Em todos os corações há um lamento
E em cada dia o oiço mais violento.
Iwan Goll, «Recitativo do requiem para os caídos da Europa (1917)», Expressionismo alemão, antologia poética, (org. João Barrento), Lisboa: Ática [sd, 1976], p.83
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