2011-05-11

dizer poesia: Sophia



MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL de Sophia de Mello Breyner Andresen

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
 
Sophia de Mello Breyner Andresen
1919-2004
Obra Poética
Sophia de Mello Breyner Andresen; edição de Carlos Mendes de Sousa
Editorial Caminho

Já falámos aqui de Sophia, uma das grandes poetas do nosso tempo. a Biblioteca Nacional de Portugal / Biblioteca Digital nacional apresenta um interessante site sobre a autora que merece a vossa passagem por

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