2021-03-02

Do que se faz depois

 

Passou um ano desde o primeiro caso de Covid-19 em Portugal.

Agora, voltamos a ver os casos a diminuir e a ter esperança num desconfinamento breve e seguro. Mais uma vez, sonhamos com o fim da pandemia, pelo que também valerá a pena ter presente a lição histórica sobre como procedem as pessoas em fins de pandemia. Jean Delumeau, voltamos a este autor, informa-nos das reações das comunidades em dois períodos diferentes da História:

Em Marselha, desde novembro de 1720, era uma verdadeira “mania”: «Não ficamos menos surpresos, naquele tempo, de ver uma quantidade de casamentos no povo […] O furor de casar-se era tão grande que um dos casados que não tivera a doença do tempo desposava muito bem sem dificuldade o outro cujo bubão mal se fechara; assim, viam-se muitos casamentos empestados».

No século XIV, no final da Peste Negra também parece que o medo rapidamente se esquecia, como dá notícia um contemporâneo:

Quando a epidemia, a pestilência e a mortalidade tinham cessado, os homens e as mulheres que restavam casavam-se sucessivamente. As mulheres sobreviventes tiveram um número extraordinário de filhos […] Ai! Dessa renovação do mundo, o mundo não saiu melhorado. Os homens foram depois ainda mais cúpidos e avaros, pois desejavam bem mais do que antes; tornados mais cúpidos, perdiam o repouso nas disputas, nos ardis, nas querelas e nos processos.

In Jean Delumeau, História do medo no Ocidente, 1300-1800 uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.150

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