2022-10-14

#lerparaapaz , MIBE 2022 - 9




O Soldado morto

 

Os infinitos céus fitam seu rosto

Absoluto e cego

E a brisa agora beija a sua boca

Que nunca mais há-de beijar ninguém.

 

Tem as duas mãos côncavas ainda

De possessão, de impulso, de promessa,

Dos seus ombros desprende-se uma espera

Que dividida na tarde se dispersa.

 

E a luz, as horas, as colinas

São como pranto em torno do seu rosto

Porque ele foi jogado e foi perdido

E no céu passam aves repentinas.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar novo (1958), Obra poética, Alfragide: Caminho, 2010, p.330 

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