“Casa
pobre com janelas e duas portas ao fundo, uma para a rua e outra para a
cozinha. Mesa com livros de escrituração comercial. Inverno, Cinco horas.
Anoitece.
SOFIA (espreitando
à janela): Não tarda por aí... Já se começam a acender os lampiões da
estrada. Pobre velho, há de vir cheio de frio. Todo o dia à chuva, toda a vida
ao tempo... (Espreita outra vez). Não
se vê nada para a rua. O café está quente. (Olha
em roda). Deixa-me dar mais luz ao candeeiro... Ah!, a manta velha e os
sapatos, senão põe-se aí a ralhar por causa dos sapatos... Há quantos anos faço
todos os dias as mesmas coisas! (Baixinho,)
Há quantos anos! (para Doroteia que
entra.) O pai hoje demora-se, estará doente?”
Assim começa a peça de teatro de Raul Brandão;
assim começa o filme de Manoel de Oliveira.
Brandão morreu há oitenta e dois anos; Oliveira tem
cento e três anos.
Ambos são homens do Porto. Agora também estão
unidos pelos belíssimos enquadramentos que Oliveira fez das palavras
de Brandão.
É um retrato da condição humana: Gebo, um homem
pobre, vive com a nora e a mulher que anseia o regresso do filho há oito anos
desaparecido... Um dia, o filho voltará para maior desgraça da família... E a
sombra?
Para ler e
para ver: http://www.youtube.com/watch?v=Hi58H5MCtuA
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