Logo que o mal aparece, os ricos
mudam-se, se podem, para as suas casas de campo, numa fuga precipitada; cada
qual só pensa em si: «Esta doença torna-nos mais cruéis uns para os outros do
que se fôssemos cães», observa Samuel Pepys em setembro de 1665. E Montaigne
conta como, tendo a sua terra sido atingida pela epidemia, ele «serviu durante
seis meses miseravelmente de guia» à sua família que errava em busca de um teto
«uma família perdida, que metia medo tanto aos amigos como a si própria e
horror onde quer que tentasse instalar-se». Quanto aos pobres, ficam sós,
imobilizados na cidade contaminada onde o Estado os alimenta, os isola, os
bloqueia, os vigia.
Fernand
Braudel, Civilização material, economia e
capitalismo, séculos XV-XVIII Tomo I As estruturas do quotidiano: o possível e
o impossível. Lisboa: Teorema, 1992, p.65
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