Cortados
do resto do mundo, os habitantes afastam-se uns dos outros no próprio interior
da cidade maldita, temendo contaminar-se mutuamente. Evita-se abrir as janelas
da casa e descer à rua. As pessoas esforçam-se em resistir, fechadas em casa,
com as reservas que se pôde acumular. Se assim mesmo é preciso sair para
comprar o indispensável, impõem-se precauções. Fregueses e vendedores de artigos
de primeira necessidade só se cumprimentam a distância e colocam entre si o
espaço de um largo balcão. Em Milão, em 1630, alguns só se aventuram na rua
armados de uma pistola graças à qual manterão a distância qualquer pessoa
suscetível de ser contagiosa. Os sequestros forçados acrescentam-se ao
encerramento voluntário para reforçar o vazio e o silêncio da cidade.
Jean
Delumeau; História do medo no Ocidente:
1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: p.122
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