2020-04-17

dos culpados



Os culpados potenciais, sobre os quais pode voltar-se a agressividade coletiva, são em primeiro lugar os estrangeiros, os viajantes, os marginais e todos aqueles que não estão bem integrados a uma comunidade, seja porque não querem aceitar suas crenças – é o caso dos judeus –, seja porque foi preciso, por evidentes razões, isolá-los para a periferia do grupo – como os leprosos –, seja simplesmente porque vêm de outros lugares e por esse motivo são em alguma medida suspeitos.  
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Não podendo os judeus constituir-se nos únicos bodes expiatórios, foi preciso, como indica Jean de Venette, procurar outros culpados, de preferência os estrangeiros. Em 1596-1599, os espanhóis do norte da Península Ibérica estão convencidos da origem flamenga da epidemia que os acomete. Ela foi trazida, acredita-se, pelos navios vindos dos Países Baixos. Na Lorena, em 1627, a peste é qualificada de “húngara” e em 1636, de “sueca”, em Toulouse, em 1630, fala-se da “peste de Milão”.

Jean Delumeau; História do medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: pp.140-141

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