Os
culpados potenciais, sobre os quais pode voltar-se a agressividade coletiva,
são em primeiro lugar os estrangeiros, os viajantes, os marginais e todos
aqueles que não estão bem integrados a uma comunidade, seja porque não querem aceitar
suas crenças – é o caso dos judeus –, seja porque foi preciso, por evidentes
razões, isolá-los para a periferia do grupo – como os leprosos –, seja simplesmente
porque vêm de outros lugares e por esse motivo são em alguma medida suspeitos.
[…]
Não podendo
os judeus constituir-se nos únicos bodes expiatórios, foi preciso, como indica
Jean de Venette, procurar outros culpados, de preferência os estrangeiros. Em
1596-1599, os espanhóis do norte da Península Ibérica estão convencidos da
origem flamenga da epidemia que os acomete. Ela foi trazida, acredita-se, pelos
navios vindos dos Países Baixos. Na Lorena, em 1627, a peste é qualificada de “húngara”
e em 1636, de “sueca”, em Toulouse, em 1630, fala-se da “peste de Milão”.
Jean
Delumeau; História do medo no Ocidente:
1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: pp.140-141
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