2020-04-14

dos santos protetores - São Sebastião

Gregório Lopes, Martírio de São Sebastião, c.1536-1538  in https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1476087 consultado em 14.04.2020

Em suma, se não se fugira a tempo, rico ou pobre, jovem ou velho, estava-se ao alcance da flecha do horrível arqueiro. Imaginada pelos meios eclesiásticos leitores do Apocalipse e sensíveis ao aspeto punitivo das epidemias, a comparação entre o ataque da peste e o das flechas que se abatem de improviso sobre as vítimas teve por resultado a promoção de São Sebastião na piedade popular. Atuou aqui uma das leis que domina o universo do magismo, a lei de contraste que muitas vezes não é senão um caso particular da lei da similaridade: o semelhante afasta o semelhante para suscitar o contrário. Porque São Sebastião morrera crivado de flechas, as pessoas convenceram-se de que ele afastava de seus protegidos as da peste. Desde o século VII, ele foi invocado contra as epidemias. Mas foi depois de 1348 que seu culto ganhou um grande impulso. E desde então, no universo católico até ao século XVIII inclusive, quase não houve igreja rural ou urbana sem uma representação de São Sebastião crivado de flechas.

Jean Delumeau; História do medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: p.116

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