Martin
Schaffner, díptico de retábulo do Mosteiro zu den Wengen, Ulm, c.1513-1514
in https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1513_Schaffner (consultado em 14.04.20)
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«À esquerda, do alto de um céu
tempestuoso [à ordem de um Deus Pai zangado] os anjos atiram flechas sobre a
humanidade pecadora, mas que se arrepende e implora. À direita, Cristo, [por
intercessão de Maria] à prece dos santos antipestilentos [Roque e Sebastião], detém
a punição com a mão. As flechas desviadas de sua trajetória inicial afastam-se
da cidade ameaçada e vão perder-se alhures. [...]
Para os homens de Igreja e para os
artistas que trabalhavam graças às suas encomendas, a peste era [além da
comparação com o fogo] também e sobretudo uma chuva de flechas abatendo-se de
súbito sobre os homens pela vontade de um Deus encolerizado. Certamente, a
imagem é anterior ao cristianismo. O canto I da IIíada evoca o “arqueiro”
Apolo que desce, “com o coração irritado, dos cimos do Olimpo, tendo ao ombro
seu arco e sua aljava bem fechada. […]
O que os artistas queriam também
acentuar, ao lado do aspeto punição divina, era a instantaneidade do ataque do
mal e o facto de que, rico ou pobre, jovem ou velho, ninguém podia
vangloriar-se de a ele escapar – dois aspetos das epidemias que impressionaram
todos aqueles que viveram em período de peste.»
Jean
Delumeau; História do medo no Ocidente:
1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: pp.113-114
(adaptado)
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