2020-04-14

das epidemias - Iconografia e História

Martin Schaffner, díptico de retábulo do Mosteiro zu den Wengen, Ulm, c.1513-1514

«À esquerda, do alto de um céu tempestuoso [à ordem de um Deus Pai zangado] os anjos atiram flechas sobre a humanidade pecadora, mas que se arrepende e implora. À direita, Cristo, [por intercessão de Maria] à prece dos santos antipestilentos [Roque e Sebastião], detém a punição com a mão. As flechas desviadas de sua trajetória inicial afastam-se da cidade ameaçada e vão perder-se alhures. [...]


Para os homens de Igreja e para os artistas que trabalhavam graças às suas encomendas, a peste era [além da comparação com o fogo] também e sobretudo uma chuva de flechas abatendo-se de súbito sobre os homens pela vontade de um Deus encolerizado. Certamente, a imagem é anterior ao cristianismo. O canto I da IIíada evoca o “arqueiro Apolo que desce, “com o coração irritado, dos cimos do Olimpo, tendo ao ombro seu arco e sua aljava bem fechada. […]
O que os artistas queriam também acentuar, ao lado do aspeto punição divina, era a instantaneidade do ataque do mal e o facto de que, rico ou pobre, jovem ou velho, ninguém podia vangloriar-se de a ele escapar – dois aspetos das epidemias que impressionaram todos aqueles que viveram em período de peste.»

Jean Delumeau; História do medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990: pp.113-114 (adaptado)


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