2020-04-14

das epidemias - História


Entre os livros de História que disponibilizamos na nossa biblioteca, o Dicionário de História Medieval de Pierre Bonnassie tem bastante uso uma vez que diversos dos seus artigos têm sido utilizados pelos alunos do 10.ºano como um meio de pesquisa de informação que vá para lá dos manuais e como meio de praticar recensões de textos historiográficos. Uma das entradas do dicionário é sobre a peste, aí escreve-se 

As consequências das epidemias não podem ser estudadas independentemente da conjuntura geral da época. […] Seria particularmente muito superficial imputar unicamente à peste negra a responsabilidade pela grande recessão do fim da Idade Média; essa recessão começou mais cedo e integra-se no quadro geral da crise da economia senhorial.
O impacto da peste foi mais específico no domínio mental. Os acessos mortais que provocava (súbitos, inexplicáveis, angustiantes) perturbaram profundamente o clima psicológico da época. Em primeiro lugar, intensificaram fortemente as tensões sociais: a exacerbação do «ódio de classe em tempo de epidemia» é um fenómeno bem conhecido e verificado em outras épocas. Cólera contra os ricos, portanto; mas também (e ainda mais violenta) contra as minorias: Judeus ou leprosos, suspeitos de terem atraído a vingança de Deus, ou ainda mais concretamente acusados de propagarem a epidemia envenenando os poços. Daí as matanças generalizadas, os massacres…
Outro grande escape para o reflexo da agressividade provocado pela angústia foi a multiplicação de seitas de flagelantes, que pela mortificação pública procuravam conter o castigo divino. Movimento de histeria coletiva que se propaga através de toda a Europa e atinge os mais graves excessos.

Pierre Bonnassie, Dicionário de História Medieval, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1985, p.171


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