Entre
os livros de História que disponibilizamos na nossa biblioteca, o Dicionário de História
Medieval de Pierre Bonnassie tem bastante uso uma vez que diversos
dos seus artigos têm sido utilizados pelos alunos do 10.ºano como um meio de pesquisa de informação que vá para lá dos manuais e como meio de praticar recensões de textos historiográficos.
Uma das entradas do dicionário é sobre a peste, aí escreve-se
As consequências das epidemias não
podem ser estudadas independentemente da conjuntura geral da época. […] Seria
particularmente muito superficial imputar unicamente à peste negra a
responsabilidade pela grande recessão do fim da Idade Média; essa recessão
começou mais cedo e integra-se no quadro geral da crise da economia senhorial.
O impacto da peste foi mais específico
no domínio mental. Os acessos mortais que provocava (súbitos, inexplicáveis,
angustiantes) perturbaram profundamente o clima psicológico da época. Em
primeiro lugar, intensificaram fortemente as tensões sociais: a exacerbação do
«ódio de classe em tempo de epidemia» é um fenómeno bem conhecido e verificado
em outras épocas. Cólera contra os ricos, portanto; mas também (e ainda mais
violenta) contra as minorias: Judeus ou leprosos, suspeitos de terem atraído a
vingança de Deus, ou ainda mais concretamente acusados de propagarem a epidemia
envenenando os poços. Daí as matanças generalizadas, os massacres…
Outro grande escape para o reflexo da
agressividade provocado pela angústia foi a multiplicação de seitas de
flagelantes, que pela mortificação pública procuravam conter o castigo divino.
Movimento de histeria coletiva que se propaga através de toda a Europa e atinge
os mais graves excessos.
Pierre
Bonnassie, Dicionário de História
Medieval, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1985, p.171
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