Com um ano de pandemia, já vimos um pouco de tudo. E do que vemos hoje muito já nos foi contado pela História. por exemplo, Jean Delumeau na sua História do Medo no Ocidente, conta-nos da incredulidade dos parisienses face à epidemia de cólera que grassava em Paris em 1832, a partir de um testemunho contemporâneo:
Como era a terceira quinta-feira da quaresma, como fazia um belo sol e um tempo encantador, os parisienses agitavam-se com tanto mais jovialidade nos bulevares, onde se viram até máscaras que, parodiando a cor doentia e a figura desfeita, zombavam do temor do cólera e da própria doença. Na noite do mesmo dia, os bailes públicos foram mais frequentados do que nunca: os risos mais presunçosos quase encobriam a música brilhante; as pessoas excitavam-se muito com o chahut, dança mais que equívoca; devorava-se toda a espécie de sorvetes e de bebidas frias quando, de súbito, o mais alegre dos arlequins sentiu demasiado frescor nas pernas, tirou a máscara e revelou para espanto de todo mundo um rosto de azul violeta.
in Jean Delumeau, História do Medo no Ocidente 1300-1800 uma cidade sitiada, São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.119
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