Rieux e os seus amigos descobriram
então a que ponto estavam fatigados. Com efeito, os homens das formações
sanitárias já não conseguiam digerir esta fadiga. O doutor Rieux apercebia-se
disso, observando nos seus amigos e em si próprio os progressos de uma curiosa
indiferença. Por exemplo, estes homens que até aqui tinham mostrado um
interesse tão vivo por todas as notícias que diziam respeito à peste já não
lhes ligavam a menor importância. Rambert, a quem tinham encarregado
provisoriamente de dirigir uma das casas de quarentena, instalada havia pouco
no seu hotel, conhecia perfeitamente o número daqueles que tinha em observação
e estava ao corrente dos mínimos pormenores do sistema de evacuação imediata
que tinha organizado para aqueles que mostravam subitamente sinais da doença. A
estatística dos efeitos do soro sobre os internados estava gravada na sua memória.
Mas era incapaz de dizer o número semanal das vítimas da peste, ignorava se ela
progredia ou recuava. E, apesar de tudo, mantinha a esperança de uma evasão
próxima.
Albert
Camus, A Peste, Lisboa: Livros do
Brasil, pp.207-208
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