2020-04-03

um desvio tão grande nas condições normais de vida


Quando descreve a Guerra do Peloponeso (431 a.C.–404 a.C.), que opõe Atenas a Esparta, Tucídides apresenta com grande pormenor a epidemia que se abateu sobre Atenas, que vitimou Péricles, bem como a ele próprio pois, como diz aquele historiador grego, «eu mesmo contraí o mal e vi outros sofrendo dele.»
 Escolhemos a notícia da epidemia feita por Tucídides e deixamos para a vossa pesquisa no texto que citamos a descrição dos pormenores:

«Poucos dias após a entrada deles [dos Espartanos] na Ática manifestou-se a peste pela primeira vez entre os atenienses. Dizem que ela apareceu anteriormente em vários lugares (em Lemnos e outras cidades), mas em parte alguma se tinha lembrança de nada comparável como calamidade ou em termos de destruição de vidas. Nem os médicos eram capazes de enfrentar a doença, já que de início tinham de tratá-la sem lhe conhecer a natureza e que a mortalidade entre eles era maior, por estarem mais expostos a ela, nem qualquer outro recurso humano era da menor valia. As preces feitas nos santuários, ou os apelos aos oráculos e atitudes semelhantes foram todas inúteis, e afinal a população desistiu delas, vencida pelo flagelo.

Dizem que a doença começou na Etiópia, além do Egito, e depois desceu para o Egito e para a Líbia, alastrando-se pelos outros territórios do Rei. Subitamente ela caiu sobre a cidade de Atenas, atacando primeiro os habitantes do Pireu, de tal forma que a população local chegou a acusar os peloponésios de haverem posto veneno em suas cisternas (não havia ainda fontes públicas lá). Depois atingiu também a cidade alta e a partir daí a mortandade se tornou muito maior. Médicos e leigos, cada um de acordo com sua opinião pessoal, todos falavam sobre sua origem provável e apontavam causas que, segundo pensavam, teriam podido produzir um desvio tão grande nas condições normais de vida».

Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, Tradução do grego: Mário da Gama Kury, Brasília; Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI/FUNAG) 2001, pp.114-115 
(adaptado) (consultado em 03.04.2020)
 

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