2020-04-03

Quando a peste salva Lisboa



Lisboa, em 1384, cercada pelos castelhanos, padece de grande carência de alimentos que a poderiam conduzir à derrota. Dessa fome, «das tribulações que Lisboa padecia per mingua de mantimento», dá Fernão Lopes notícia na Crónica de Dom João I.

Mas, quando tudo parecia estar perdido, é a epidemia que grassa junto das tropas sitiantes castelhanas (as de terra, no «arraial» e as dos navios no rio) que salva o Mestre de Avis e a cidade de Lisboa:

«Não curando agora de falar das coisas que aos da cidade no cerco aconteceram, principiou a triste morte de mostrar a sua sanha mais asperamente contra os do arraial, e igualmente contra os da frota, e matou não somente escudeiros e fidalgos, e dos outros de pequena condição tantos que era estranha coisa de ver, como ainda começou a encetar nos senhores de grande estado, de guisa que pôs grande espanto em todos.
Os castelhanos, vendo-se assim afincados pela pestilência que cada vez mais se ateava neles, bem entenderam que a sua estada não podia aí ser por muito tempo, e que teriam por força de descercar a cidade e de se partir dali cedo».
Fernão Lopes, Crónica de Dom João I,
(consultado em 03.04.2020)

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