2020-04-05

do amor na quarentena - Decameron de Boccaccio




«Graciosas Senhoras, quanto mais penso cá comigo e contemplo como são as senhoras naturalmente piedosas, mais concluo que esta obra lhes parecerá austera e pesada no princípio, assim como o é a dolorosa lembrança da última peste, com que ela se inicia, para todos os que a viram ou que de algum outro modo souberam de seus estragos. Mas não quero que isso as assuste e impeça de prosseguir, como se, lendo houvessem de estar sempre entre suspiros e lágrimas. Este horripilante início não deve ser diferente do que é para o caminhante a montanha acidentada e íngreme, atrás da qual se encontre uma planície belíssima e amena, que lhe parecerá tanto mais agradável quanto maior tiver sido o padecimento da subida e da descida. E, assim como os confins da alegria são ocupados pela dor, as misérias têm seus limites no contentamento que sobrevém.
A este breve aborrecimento (digo breve porque contido em poucas linhas) seguem-se logo o deleite e o prazer já prometidos, que talvez não fossem esperados de tal início, caso isto não fosse dito.»

Assim começa a primeira jornada do livro que Giovanni Boccaccio escreveu no seguimento da Peste Negra que se declarou em Florença em 1348. O Decameron, cuja tradução de Urbano Tavares Rodrigues para a editora Relógio d’Água pode ser requisitado na nossa biblioteca, quando abrir, constitui-se num conjunto de contos de amor narrados durante dez dias por dez jovens (sete raparigas e três rapazes) refugiados da epidemia numa espécie de quarentena dedicada ao amor.
Em 1971, Pasolini realizou um filme a partir da obra que está disponível no you tube.

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