O Governo lamenta ter sido forçado a
exercer energicamente o que considera ser seu direito e seu dever, proteger por
todos os meios as populações na crise que estamos a atravessar, quando parece
verificar-se algo de semelhante a um surto epidémico de cegueira,
provisoriamente designado por mal-branco, e desejaria poder contar com o
civismo e a colaboração de todos os cidadãos para estancar a propagação do
contágio, supondo que de contágio se trata, supondo que não estamos apenas
perante uma série de coincidências por enquanto inexplicáveis. A decisão de
reunir num mesmo local as pessoas afetadas, e, em local próximo, mas separado,
as que com elas tiveram algum contacto não foi tomada sem séria ponderação. O
Governo está perfeitamente consciente das suas responsabilidades e espera que aqueles
a quem esta mensagem se dirige assumam, como cumpridores cidadãos que devem de
ser, as responsabilidades que lhes competem, pensando também que o isolamento
em que agora se encontram representará, acima de quaisquer outras
considerações, um ato de solidariedade para com o resto da comunidade nacional.
José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, (19.ª ed) Lisboa: Caminho, 2011 pp.258-259
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